quarta-feira, 18 de maio de 2011

Minha Fama de Mau


"Toda forma de conduta se transforma numa luta armada", já disseram os Engenheiros do Hawaii. Portanto, às vezes é preciso contrariar o Ahimsa (princípio da "não-violência", que fez muitos praticantes de yoga abandonarem o consumo de carne) e defender o vegetarianismo e outras ideologias "pacíficas" de uma forma às vezes contundente, como é a divulgação de informações, imagens e vídeos relacionados ao assunto.
O amor aos animais começa cedo (como prega uma das campanhas feitas pelo Instituto Nina Rosa). Crianças gostam de animais e quando não têm ao menos um animal doméstico, possuem os "de pelúcia" e desenvolvem com eles relações de afeto. Mesmo os meninos: todo bebê tem algum animal "artificial" para brincar. À medida que o tempo passa, surgem as visitas ao zoológico, o contato com cães e gatos e a admiração pelos animais presentes em desenhos animados e filmes infantis. Têm-se noção de seu habitat e de que (ao menos as aves e mamíferos) têm relações "familiares" entre si.
Desenvolve-se também um respeito à natureza e ao "meio-ambiente", com conversas sobre preservação e a importância de se jogar lixo no lugar adequado. Aprende-se que é errado mentir e que não se deve roubar ou agredir os coleguinhas. Mas quase sempre tudo isso se perde, na "selva de pedra" em que crescemos.
Fernando Sabino afirma em sua crônica "Uma Vez Escoteiro": "...a verdade é que um dia descobri, perplexo, que o mundo adulto não tolerava minha disposição escoteira de ser alegre e sorrir nas dificuldades, de ser bom para os animais e as plantas, de ter uma só palavra e minha honra valer mais que a própria vida, como ordenava o nosso Código."
Enquanto as crianças choram e os adolescentes reclamam e se rebelam quando algo os desagrada, os "adultos" simplesmente tentam ignorar o que não parece certo. A vida aos poucos vai exigindo que valores e ideiais sejam ocultados, se não esquecidos, para a manutenção da "ordem" vigente."Homem não chora" e "a vida é mesmo assim".
Amadurecer é se tornar "insensível" (ou parecer) e tentar ignorar qualquer realidade que não afete diretamente a sua vida.
Então, cria-se, ainda na adolescência, quando se busca de forma mais obstinada a imitação do comportamento adulto, uma cultura de subversão aos "valores infantis".
E para ter o respeito de seus semelhantes, é preciso construir uma "fama de mau": é preciso "não se importar" com política, meio ambiente, os animais e até mesmo outras pessoas. Que cada um "se vire", como puder. E claro, é mais fácil procurar culpados no passado que tentar "consertar" o presente.
Todos têm o direito de escolher o que parece melhor para si e defender ou disseminar o que acreditam. Porém, não acredito que criticar o que não se conhece possa trazer algo válido à sociedade. Ou ainda, criticar o que se acha justo pelo simples motivo de não querer aderir, pela negação ao próprio conforto e à manutenção de antigos hábitos. Assim, surgem comentários ácidos sobre vegetarianos, pacifistas, manifestantes de qualquer natureza e pessoas "certinhas": os que fazem dieta e exercícios, os que estudam muito, os que não bebem, não fumam, não usam drogas ilícitas. Ou os que aderem a práticas religiosas.
Será que só os vegetarianos são contra a criação de animais em confinamento, sob condições de estresse, para depois ter um prazer à mais à mesa? Só os pacifistas preferem um mundo sem violência? Só aqueles que comparecem às passeatas para evitar o aumento do valor da passagem de ônibus ou do salário dos parlamentares (como ocorreu em São Paulo, na qual não foram vistos mais de vinte manifestantes) são contra os aumentos?
Quanto ao último episódio citado, ocorreu um fato intrigante: Danilo Gentili, um dos integrantes do CQC, ridicularizou Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas Roque Clube, que organizou o protesto, devido ao pequeno número de pessoas presentes. O comediante que é visto como "herói" de um povo que prefere assistir do sofá à revolução que tem preguiça de fazer, criticou no twitter a tentativa do músico de manifestar seu descontentamento com a decisão dos parlamentares de ganharem ainda mais, às custas de quem trabalha para pagar impostos. Danilo deve saber que o povo gosta de CQC porque satiriza e incomoda os "representantes do povo", o que muitos brasileiros gostariam de fazer. Mas que valor tem a sátira se ela apenas evidencia a má situação em que se vive, sem despertar o interesse em mudá-la?
Portanto, acomode-se, se for essa a sua preferência. Mas não se oponha aos que tentam mudar o que lhes parece injusto ou desnecessário, ou apenas tentam preservar sua saúde e o ambiente, ou melhorar a sociedade em que vivem.
Talvez amadurecer não seja parecer inerte, mas aprender a ser proativo e conviver com as diferenças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário