sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Velho

É o nome de um livro do Marcelo Rubens Paiva, de 1982. Um dos maiores best-sellers dos anos 80 e virou roteiro de um filme interessante de mesmo nome, que relata.. coisas das quais não falaremos aqui. O texto nada tem a ver com o livro. Mas eu não poderia deixar de citá-lo, já que o livro e este texto são homônimos.


Marcelo Rubens Paiva, no lançamento de seu livro, em 1982.

2010 foi um ano de muitas surpresas. Tive a possibilidade de estudar em uma cidade realmente longe daquela que meus pais escolheram para viver. Desci mais um pouco no mapa, como dizem os nativos da terra em que fui estudar, e passei um ano em terras gaúchas. Imersão cultural, variações lingüísticas e comportamentais. A chuva que me acompanhava na cidade das flores continuou a me seguir nos pampas. O vento minuano trazia saudades de aspectos da "cidade das bicicletas", que antes passavam despercebidos. E em lugar desses veículos de "propulsão humana" e independente, vi a tração animal de forma mais comum.
Vi o orgulho de quem tentou se separar do Brasil e criar uma sociedade mais justa para viver. Pilchados, e não farroupilhas, surgiam os descendentes dos idealistas no feriado de 20 de setembro. Feriado este que só existe no sul da região sul.
Morei com duas meninas mais velhas. Sim, meninas, e não "mulheres", adultas e "sem medo", sabendo tudo sobre a vida e o que fazer de sua própria, como eu acreditava que fossem todos aqueles (e aquelas) que tivessem mais de 25 anos. Há sim a vontade de seguir em frente e evoluir, conviver com pessoas diferentes e peregrinar em busca de conhecimento e transformação. E aqueles que optaram por uma profissão incompatível com algumas de suas idéias também têm sentimentos, inseguranças, objetivos e boas idéias. São tão humanos quanto você.
Fui vegetariana na terra do churrasco e em um apartamento em que viviam duas zootecnistas fazendo mestrado. Aprendi que muitas pessoas não sabem o que é veganismo, mas respeitam a decisão de quem tem um estilo de vida (e alimentação) diferenciado.
O interesse por psicologia e psiquiatria se fez mais vivo. Procurei terapia e leituras sobre assuntos aleatórios e qualquer coisa que me ajudasse a lidar com uma nova situação: tive aula prática de síndrome do pânico. E descobri que ela é causa e conseqüência de circunstâncias que acreditei serem impossíveis de atenuar ou solucionar. Mas houve cura e percebi que o medo e o isolamento não são inerentes à minha personalidade.
Viagem de longa distância. Estradas nas quais o horizonte é visto sem obstáculos. Araucárias não ocultam o sol. Este se faz livre e gigante. As paisagens remetem à imensidão do desconhecido e a pequenez do ser humano. E agora compreendo porque há tantos escritores gaúchos. E a maior viagem feita foi desbravar o próprio universo e enfrentar os monstros invisíveis que impediam navegações maiores.
Um novo dialeto aprendido. Novos contatos e amigos. Uma forma diferente de encarar a vida. Vontade constante de sorrir e admirar o mundo e as possibilidades. Um desejo inédito de permanecer na Terra mais um pouco. E nesse pouco, viver e aprender muito.

Feliz Ano Velho!
E que o ano novo seja ainda melhor!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Forças Invisíveis de Fim de Ano

Nostalgia e felicidade. Algo que me cerca e preenche de uma forma que não sei explicar. Uma sensação otimista, que resiste aos exames de faculdade, ao mau tempo, ao acordar cedo e à consciência de que pode haver problemas ano que vem... tanto os previstos, como a possível (para não dizer provável) repetência de algumas disciplinas, as saudades da família (a quinze horas daqui, mas eternos moradores de meu universo inconsciente, de pensamentos e sonhos) e as incertezas e adversidades. Mas há uma esperança, uma idéia persistente de que, de algum modo, a humanidade evolui. Talvez seja porque no fim do ano fica evidente que muito tempo se passou. Aparentemente, essas impressões não são só minhas, mas da maioria das pessoas que conheço.
Mais acontecimentos e dias são adicionados à linha do tempo de cada um. Fotos batidas no começo do ano parecem ser de pessoas tão mais jovens, inocentes. Conquistas, decepções, discussões e situações que nos fizeram mais experientes, de algum modo. Uma experiência cuja utilidade é discutível. Afinal, nada se repete. Nada ocorre exatamente do mesmo jeito, com as mesmas pessoas. É impossível saber se, agindo de forma diferente da anterior em situação semelhante, estamos mesmo errando menos.
O fato é que, estando mais velhos, certamente cumprimos mais uma etapa de nossa jornada. Evoluimos, ainda que muito pouco, e tivemos mais tempo de adaptação a essa realidade tão mutável que vivemos. E comemoramos, mesmo sem perceber. Ficamos felizes por saber que diminuimos mais um pouco nosso expediente e ao mesmo tempo, que mais um ano permanecemos vivos. A satisfação nos faz mais gentis. Férias mais próximas tornam mais informal o ambiente de trabalho ou estudos. Há uma sensação de dever cumprido e a certeza de que o merecido descanso está por vir.
"Gentileza gera gentileza". Tornamos mais leves tarefas simples e a convivência de outras pessoas conosco. E emanando felicidade e gentileza, querendo também preservar a idéia de "missão cumprida", sentimo-nos estimulados a continuar gentis. Surgem então campanhas e demonstrações de solidariedade, com a participação de inúmeros voluntários e assistidos. Presentes, boas ações e sorrisos são fartamente distribuídos e tudo parece fluir com mais clareza, motivo e eficiência no fim do ano. E como quem realizou os doze trabalhos de Hércules, chegamos ao décimo segundo mês do ano com o desejo de aproveitar nas férias as coisas mais simples, que não tivemos tempo para fazer. Pode-se então desfrutar de finanças acumuladas e do conforto gerado por estas e pelo tempo livre. Saco cheio? Só se for de presentes. Mais cabelos brancos e talvez alguns quilos acumulados. O calor humano nos aquece como uma lareira, derretendo em parte a neve que cobre os olhos ou o coração de uma sociedade. Um sentimento de paz nos preenche e somos quase capazes de flutuar. A gentileza inspira a distribuição ou até mesmo o desenvolvimento de presentes. E a lei da ação e reação das forças de fim de ano leva ao ser humano, em maior ou menor intensidade, a índole de um Papai Noel.