quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fragmento

Desejando a própria surdez para que não tivesse ouvido tais palavaras, ela se sentou no quarto. Havia muito a ser feito, mas aquele não parecia o momento adequado. Pensou em sair de casa e ver sem tanto enquadramento o céu azul que a lembrava da beleza do mundo. Mas não conseguiu fugir dos pensamentos e estes a fizeram verter lágrimas novamente.
Se "chorar não resolve", ao menos instigou uma reflexão. E o fato de não querer ser vista chorando a impediu de sair e fazer algo do qual possivelmente se arrependeria depois. O momento em silêncio renderia decisões importantes.
A luz do sol se fez menos intensa e aquele dia chegou ao fim. Ela logo se livrou do sofrimento e ocupou seus pensamentos com os novos planos. Lembrou-se dos prováveis acontecimentos do dia seguinte, ignorou as estrelas e foi dormir.

sábado, 19 de junho de 2010

Os Dissabores do Vegetarianismo

Sim, vegetarianismo é questão de escolha. E não vou justificá-lo agora, pois penso que já há bastante informação (ao menos aos interessados) sobre motivos para não se comer carne.Portanto, não vamos falar de causa, e sim de conseqüência.
Não vou falar que carne faz falta, ou que as pessoas às vezes não aceitam o fato de alguém não comê-la. Vou me referir àquele momento na vida em que se resolve "comer certo", pois a carência de ferro, proteínas e vitamina B12 torna-se um perigo iminente. E motivado pelo desespero dos deus pais e aqueles relatos (geralmente por "onívoros") de gente que parou de comer carne e teve "doença", surge ao menos a reflexão sobre aventurar-se pelo mundo da comida "herbívora" saudável.
A soja apresenta quantidade significativa de proteínas, além de ser benéfica às mulheres na menopausa (é uma alternativa mais saudável que a reposição hormonal). Porém, em seu estado "natural" (feijão-soja), leva muito tempo para ser preparada. É preciso todo o cuidado para retirar aquela "pele" que envolve os grãos, pois se esta acidentalmente for cozida, o gosto do alimento preparado o torna impróprio para o consumo humano. Na falta de tempo e/ou paciência, a opção é partir para a "comida pronta"/industrializada. Começa então uma odisséia gastronômica, com direito à quase inexistência de produtos desejados à venda perto de sua casa (e, os encontrados, a preços no mínimo desanimadores) e a discrepância entre seu paladar e suas necessidades nutricionais. Certas produtos explicam a má fama da culinária vegetariana.
Leite de soja... Quem nunca experimentou? Aquele mesmo, em pó, pronto para ser dissolvido... Em água! Mas não, não faça isso. Pra descer, só com suco de fruta (e bem mais suco que pó). "E aqueles com sabor, você não gosta?" Infelizmente, "aqueles com sabor" têm menor quantidade de soja, possivelmente para que fiquem mais "gostosinhos" e assim têm menos proteínas. Sim, eu gosto. Mas dou preferência aos "normais" (em caixa, não em pó, porque em pó está além das minhas forças) enriquecidos com cálcio e só tomo os "gostosinhos" quando vou para a casa da minha mãe.
E por falar em soja... Existe a salsicha de soja. O gosto deixa a desejar, mas já vi gente comendo (sem saber que era de soja) em cachorro-quente e não perceber nada de diferente. Cheguei a me perguntar se a de uma das marcas que comi foi experimentada por alguém antes de ser vendida. Mas não há QUASE nada comestível que um bom molho não consiga disfarçar.
Há também a glutadela, algo desconhecido pela maioria dos onívoros, e que se faz presente em pratos prontos, como um tipo de feijoada pronta vegetariana. É particularmente dura e eu não saberia dizer com que comida "normal" ela se parece. Mas é bastante nutritiva e vale sua determinação em comê-la. E, como disse, no meio de outra comida e com molho e/tempero, fica fácil consumir.
Mas nem tudo está perdido! Recomendo o hambúrguer de soja da marca Samurai, disponível em três sabores (Alho e Ervas, Tomate e Milho e Legumes) e a pouco mais de oito reais numa embalagem com duas unidades (é, é caro). Gostava do medalhão e das almôndegas de soja, vendidos em lata, mas acho que a rotina de comê-los me fez enjoar deles. Deve haver muitos outros bons produtos, ainda desconhecidos por mim.
Há lugares em que boas refeições sem carne são servidas, e para aqueles que têm pouca ou nenhuma intimidade com o fogão, existe a possibilidade de comer fora de casa, ao menos de vez em quando. A preços justos e com as devidas "rotulagens" para se saber se um alimento é vegano, havia o restaurante Emporium, em Joinville - SC. Ouvi dizer que não está mais servindo refeições, mas ainda vende produtos vegetarianos (a preços acessíveis. E alguns de sabor bastante agradável). Em Florianópolis - SC, o restaurante Lua Natural oferece excelentes opções vegetarianas (apesar de ter carne no buffet). Pelotas - RS conta com o a Padaria Princesa Isabel, que possui lanches vegetarianos e veganos, e o restaurante Teia Ecológica, com buffet ovo-lacto-vegetariano.
Recentemente (há pouco mais de um mês) tornei-me adepta da dieta vegana. Achei difícil parar de consumir leite e ovo, mas com tempo e paciência para procurar informações e ler rótulos, é possível se adaptar e encontrar coisa boa para comer.
Há pouco tempo soube, por exemplo, que pão francês não é feito com leite nem ovos. E os biscoitos Bono (sabores morango e chocolate)e Negresco não têm contêm leite em pó (presente na maioria dos biscoitos recheados).
Não vou negar que às vezes tenho saudades de ser "normal" e comer muito daquilo que por esses quatro anos de ovo-lacto-vegetarianismo me fez feliz. Há mais implicações sociais no veganismo, que impede o consumo de pizza, chocolate e fondue, por exemplo, e aquela batata com maionese que ovo-lacto-vegetarianos comem com alface e arroz em churrascos. Mas percebe-se que nada se perde do melhor dos encontros:
pessoas com quem gostamos de conviver. E é pelos que nos amam que nossas "fases" e "loucuras" são toleradas.
Fica aos fabricantes o pedido para que novas opções vegetarianas e veganas sejam desenvolvidas, e preferencialmente com sabor melhor e vendidas a preços acessíveis. E para que os rótulos dos alimentos tragam mais informações para a identificação de ingredientes de origem animal.

sábado, 12 de junho de 2010

Pára-quedas

Ah, que saudades da minha...sétima casa. E foi pensando nisso que saiu esta:

(Por enquanto, nada de reforma ortográfica por aqui)

O vôo estava quase lotado. Era a segunda linha que partiria naquela direção.
Passageiros apressados dirigiam-se às portas, sem exatamente saber se desejavam partir. Mas era uma das últimas oportunidades de embarcar no novo mundo, de pessoas desconhecidas, experiências inimagináveis e infinitas possibilidades. Passaporte disponível apenas para os insanos; dispostos a abandonar a segurança do território já demarcado e reconhecido e partir rumo ao inimaginável. Talvez maior que a vontade de ir fosse o medo de perder a chance. E foi essa a razão de embarque de alguns.
Levando apenas memórias, sonhos e a personalidade ainda passível de transformações, eles partiram. Não era o primeiro vôo de alguns, mas em todos os viajantes havia certa apreensão.Como não temer os monstros invisíveis, que nos afrontam desde as grandes navegações?
A aeronave partiu, deixando rastros e saudades. Meses demorariam até que muitos fizessem o percurso inverso. Mas era tarde para descer do avião e cedo para desistir da viagem.
Às paisagens misturavam-se lembranças e reflexões. Cada indivíduo permanecia em seu universo secreto e intocável de pensamentos. Olhares curiosos dirigiam-se às janelas. E a cada mudança brusca de cenário, os ocupantes percebiam o quanto estavm distantes do conforto do lar. Mas o anseio por descobertas e vivências seduzia de modo a impedir qualquer arrependimento inicial.
Enfim, chegou-se ao destino. Fascinante pelas surpresas que viriam, preocupante pelos momentos de dor e solidão que surgiriam. Mas a bagagem abstrata que se seguiria dali e poderia ser levada a qualquer lugar compensaria qualquer sofrimento ou situação extrema. Assim era esperado.
Os ocupantes foram descendo, um a um, de pára-quedas. Sem medo do olhar dos sãos, que não fariam nada semelhante. E enveredaram-se por caminhos só considerados loucos poderiam trilhar. Tudo o que foi visto, sentido e percebido resumiria-se a palavras e fotos. Talvez alguns vídeos. As vivências só seriam realmente conhecidas por aqueles que as experimentaram. Só a estes seria reservada a sensação de voltar ao lar com um olhar diferente, para tudo e para todos. E a invasão de memórias a cada estímulo que lembrasse a viagem, pelo tempo que fossem capazes de se lembrar dela.